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5 de janeiro de 2018


ESPERANÇA
Já falei aqui no site sobre o experimentar coisas novas, em que transmiti a ideia de que se não fizermos diferente, tudo continuará igual.

Estamos no início de um novo ano e esta realidade trouxe-me a vontade de vos falar sobre a esperança. Esperança é a consciência ativa, chamada a participar da magnitude da vida e da sua preciosidade. É a mudança camuflada, alimentada pelo desejo e iniciativa.

Uma vez encontrada, a esperança significa que se conseguiu vencer o medo, a culpa, a ansiedade e o desespero - “A situação está tão mal que já não poderia ficar pior”; “vou desistir disto, é tão dificil”, “nunca vou conseguir chegar lá”! Estas são as expressões abandonadas que dão lugar a outras cheias de vida e dinamismo como: “eu acredito”, “eu vivo uma boa vida”, “eu vivo a vida que desejo”, “eu sinto-me bem”.

As vezes, no emaranhar de pensamentos pessimistas e de sentimentos duvidosos, questiona-se a vida com tantos“se”, que o “se” torna-se o alicerce de sonhos, de projetos, de não conquistas. Com o “se” mata-se os sonhos, vive-se realidades adversas, e a vida torna-se um vazio, um caos. Não se dá conta de que a opção “se” impede de alcançar o que se deseja. 

Deixa-se de querer verificar o que não está a funcionar na vida e passa-se a viver com a mágoa, a frustação, a raiva, a inveja, o ciúme. Vive-se provavelmente “uma vida normal”, aquela vida que Lobo Antunes, através do seu olhar médico, define como “um caos desorganizado de projetos, emoções, sentimentos, interesses culturais, familiares, profissionais.”

A chegada de um novo ano é a altura ideal para se prestar atenção àquele primeiro pensamento que vem à cabeça quando se acorda pela manhã, que permanece em alguns períodos do dia, e é o último a abandonar a mente de noite, ao adormecer. É a altura ideal para por fim ao caos e fazer um plano de renovação.

A renovação tem como aliada a esperança. A esperança de que as coisas mudem, que as atitudes mudem, que as relações mudem, que o peso mude, que a rotina mude, o trabalho… “O que posso fazer?”, “por onde começo?”, estas expressões surgem quando se está pronto para a mudança.

A esperança chega com duas faces: a face do desafio que se vence e a do desfio que se frusta. Este desafio não é mais do que uma competição com a própria pessoa. É um jogo com um único jogador. Por esta razão quando um desafio se frusta dói imenso. Muitos nem chegam sequer tentar com o medo de falhar.

Jordan B Peterson no seu livro “12 Regras para a vida: um antídoto para o caos”, fala da “teoria de definição de metas", que se baseia na escrita "terapêutica" ou "expressiva" das intenções. Este psicólogo de renome dá aulas no departamento de psicologia da Universidade de Toronto e é fascinado com os efeitos da escrita sobre a organização de pensamentos e emoções. Ele acredita que se escrevermos metas concretas e específicas, podemos superar os obstáculos e alcançar os objetivos a que nos propomos.

Na verdade, ao estabelecer-se uma meta corporiza-se um sonho, e começa-se a acreditar que é possível e isto motiva a que se faça algo para alcançá-la.

Os ensinamentos que Jordan B Peterson apresenta passam, de entre outros, por listar os desejos, inserir passo a passo, degrau a degrau, pequenas mudanças na rotina, até que se torne um hábito e este se consolide numa grande conquista. Manter um registo de todos os progressos feitos é um dos requisitos necessários. Esses ensinamentos podem ser uma boa ajuda, quando mudar se torna necessário e imperativo.

Bernardo Soares*certo dia escreveu: (…) “Não compreendo senão como uma espécie de falta de asseio esta inerte permanência em que jazo da minha mesma e igual vida, ficada como pó ou porcaria na superfície de nunca mudar. Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa (…) ”.

Este trecho conduz-nos, em pensamento, aquela pessoa que perante a possibilidade da mudança se investiga, na esperança de saber quem é quem, e o que pretende encontrar na equação adequada entre ela própria, o espaço que habita, o tempo e a realidade que vive. Para tal é necessário que resgate a esperança e sinta a necessidade de mudar.

O ano novo sugere uma renovação, um alento otimista, oferece a possibilidade de se acreditar num recomeço. É uma boa altura para parar, pensar nas escolhas a fazer, no que se deseja alcançar e realizar, e é uma boa altura também para estabelecer a estratégia adequada para conquistar os objetivos definidos.




Livro:*Fernando Pessoa em Bernardo Soares - Livro do Desassossego “autobiografia sem fatos”.

Texto da autoria Decimadostelhados.

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